3º Episódio Episcopal e talvez o último (ou não!)

Nossos amigos, pois é… estão todos presentes? A Dona Ermelinda não está? Vá lá chamá-la se faz favor… Assim está bem. Bem, o motivo pelo qual vos reunimos aqui hoje é a continuação de um assunto talvez já esquecido por vós. Não por nós! Nunca! Jamais! Nós que somos pessoas que nos sacrificamos como já sabem para que a verdade seja apurada. E eis senão quando que hoje a motivação principal desta reunião é… sim, sim… a trama da noite de Natal… e em particular aqueles senhores que trazem as prendas para o J.C. Primeiro ponto: ele nasce e fica deitado sem fazer nenhum e vêm logo três gajos não sei de onde a palmilharem milhas e milhas orientados por uma estrela… para o presentear com prendas. Então mas que raio fez o puto para ter logo medalhas de bom comportamento? Hã? Anda uma pessoa aqui o ano todo a evitar asneiras, a aprender a controlar-se sempre que nos pisam, a ajudar as velhinhas a atravessar a estrada (verídico! nós fazemos mesmo isso!) e a nós ninguém nos dá nada. Nicles, zeros… Parece-nos bem. Só há uma coisa a retirar disto tudo, os gajos estavam bêbedos… os Reis Magos, esses mesmo. Só pode. Mas quem é que no seu juízo perfeito se lembra de atravessar o deserto à noite orientados por uma estrela, digam-me… quem?
E além disso, se os gajos eram realmente assim tão ricos porque raio é que foram a pé? É que nem uma carroça! Pobres! E bêbedos. Enfim… E o puto lá nas palhas a rir-se… maleficamente a rir-se e a pensar: “come to me you bastards “. Não fiquem assim tão indignados. Dada a situação é o que nós julgamos que aconteceu. É tudo muito estranho… e depois estamos aqui nós passados 2005 anos a comemorar o nascimento do puto e assim do nada… puff! aparece-nos uma personagem um tanto para o anafada e armado em sócio do SLB com a típica barriga de cerveja que será mais da idade e dos doces de Natal que vai roubando de casa em casa. O Pai Natal. Aí está ele… o gajo que desce pelas chaminés e nos larga presentes à meia-noite do dia 25 de Dezembro. Bem… até aqui já temos um rol de personagens que muito deixam a desejar mas este é sem dúvida a personagem que menos sentido faz sentido nesta novela toda. Mas, mas… que raio faz um Pai Natal? Já estão todos a responder mentalmente… nada, é, pois… não faz nenhum… bem como o J.C. estendido nas palhas. E que por acaso até foi concebido da mesma forma… assim sem se fazer nada. A mensagem natalícia será no fundo o nós não termos de fazer nada? Pois é. E o Natal é hoje ou foi ontem. Eu nunca percebi muito bem esta pequena questão. Os putos a arrastarem-se pelos cantos para fazerem tempo até que um gajo que parece ter roubado meia dúzia de pijamas aos gajos do Benfica (e depois cozeu-os é claro) apareça com um saco vermelho cheio de prendas. Eu podia dizer agora que nunca acreditei no Natal e nem nesse senhor de ar suspeito mas iria estar a denegrir-me. Mas um facto curioso é que eu sempre achei estranho um senhor com as proporções que ele aparenta ter coubesse na chaminé da minha cozinha. Bem, lá me tentaram enganar ao dizer que ele tinha poderes mágicos e que por instantes ficava magro o suficiente para passar ali. Meus amigos, não brinquem comigo! Se assim fosse, isto é, se realmente ele tivesse esses poderes mágicos ele só os usaria para passar em estreitas chaminés uma vez por ano? Aquele aspecto físico todo realmente é de se ter orgulho, não é? Havia lá ele de utilizar os tais poderes para se manter esbelto o ano todo? Claro que não. Ou então também se pode pensar que ele ficou assim com aquele peso depois de já ter passado por mil e uma casas e ter comido pelo menos um pastel de bacalhau e uma fatia dourada em cada uma. Assim se calhar já se pode ter uma ideia de como ele ficou obeso. A cena é esta: dia 25, ontem, a je espera pelas prendas... e já começo a fazer altos planos do que será pois portei-me muito, muito bem. Sacrifiquei-me e privei-me de inúmeras coisas e assim sendo, pela conversa de anos e anos dos meus pais e provavelmente de todos os pais do mundo, quanto melhor nos portarmos melhores prendas teremos. Pronto, um embrulho… até volumoso e tudo aparentando ser uma prenda daquelas! Abro-o e é o quê? Um par de pantufas… de gatinhos. É claro que eu queria aquilo. Aliás vim sonhando ter umas pantufas daquelas sei lá eu desde quando. Eu nem devia saber que as queria. Chorei de emoção. Além das pantufas, os embrulhos sucederam-se e hey! meias às riscas, pijamas e outras coisas que tais. É mais que óbvio que tudo isto foi o que pedi. (Não!) É esta a hora em que eu me pergunto se é para isto que enganam os miúdos? Isto é uma tremenda maldade. Inventam personagens até pouco atraentes, falam de Jesuses, Marias e Josés que podiam ser os meus vizinhos do lado e põem-nos lá dum pedestal e sem nos explicarem bem o que são eles associam um Pai Natal. Epá, tudo isto para manter os putos na linha. Isto é chantagem!!! Depois admirem-se que quando os putos crescerem e se aperceberem destas coisas se revoltem e até fiquem com graves perturbações mentais (este espaço é o exemplo perfeito disso).

É um ultraje!

E não vos dou Boas Festas nenhumas porque não posso compactuar com isto.
Até para o ano ou talvez não.
Cambada de aldrabões.

Sem mais nada a declarar,

a perfeita idiota.